Sempre
tive uma certa resistência à religião. Não era a fé, em si, que me incomodava,
mas o modo como a religião transforma a vida das pessoas. Guerras, restrições, hipocrisias,
doutrinas, preconceitos, manipulações. Passei a encarar tudo isso com um olhar
negativo.
Aprendi,
desde criança, a ter uma visão crítica sobre qualquer leitura, até mesmo em
textos de autores conceituados. Por que a Bíblia, então, não poderia ser
questionada?
Tudo
começou com a intensa propaganda religiosa que me esbarrava em qualquer canto,
social e virtual. Parecia que o mundo me fazia engolir aquele bombardeio de
palavras que se afirmam como verdade: eu vou para o inferno, eu não sou nada
sem Deus, eu sou uma pecadora desde que nasci.
Ouvi
discursos de união e compaixão de pessoas egoístas. Ouvi pessoas defendendo
direitos iguais para todos e sem qualquer tolerância a ateus, homossexuais ou
mesmo pessoas de outra religião. Elas acreditavam ser mais felizes, ser “gente
de bem”. Aquilo não fazia sentido para mim.
A
cada dia que passava, meu ceticismo se tornava mais presente. Ao mesmo tempo,
me sentia mais vulnerável, entregue ao acaso. Eu nada podia controlar. Passei a
ser julgada por não acreditar em nada. Em nome da liberdade, defendi arduamente
meu ponto de vista, minha opinião crítica. Exigi o direito de me expressar,
pela fala e pelo corpo.
Em
meio a tanta resistência, percebi ter adquirido o discurso do meu próprio
opressor: a intolerância. Minha luta era legítima, mas não estava nos meus
planos sentir repúdio.
Sei
pouco sobre religião, mas entendi que as práticas são diferentes. E,
principalmente, pessoas são diferentes. Procurei ouvir mais, entender mais. O
preconceito existe em diversos campos – quando um ateu diz ao religioso que
este é ignorante, por exemplo –, assim como o caráter é individual,
independente de religiosidade. Hoje, confesso, luto contra o meu próprio
preconceito.
Não
é o cristianismo que está em jogo. Não é ele que define quem somos ou nossas
atitudes. A questão está na incapacidade que muitos têm de respeitar, aceitar
modos e valores distintos. Não é a sua religião que quero combater, e sim a
parte dela que não me tolera, a parte que fere a liberdade e escolha alheia. O
mesmo vale para outros casos. Não lutamos contra brancos e homens, mas sim contra
o racismo e o machismo.
Nunca
entendi muito bem como uma entidade invisível pode ser tão adorada há séculos
de humanidade. Porém, compreendi que existia, de alguma forma, uma crença
dentro de mim, uma forma de transcender. E ela está no amor que sinto, na minha
força interior, no meu olhar sobre o ser humano, na energia que minha mente
proporciona ao corpo. Está na poesia que eu leio, na arte que comove. Tudo isso
é impalpável. Mas, acredite no que vou lhe confessar: é real.