domingo, 3 de abril de 2011

O ângulo feminino


Fugindo ao padrão literário do blog, escrevo hoje para registrar uma opinião adversa à lógica de uma sociedade machista. Costumamos, desde criança, entender o preconceito como algo recorrente no dia-a-dia, mas que deve ser abolido. Quando digo preconceito, refiro-me a todos eles. Percebo hoje, no entanto, que só podemos compreendê-lo de fato quando o sentimos. Menos condenável que os demais, sem dúvida, mas não menos sofrido para quem sente, o preconceito com a mulher no futebol foi o tema escolhido para este pequeno desabafo.

Está certo que a mulher, de uns tempos pra cá, vem conquistando o seu espaço no universo do futebol. Já temos hoje, por exemplo, presidenta de clube e inclusive árbitras (“bandeirinhas”). Mas o ponto crucial para este debate é discutir a mulher no âmbito de torcedora: é aonde eu me encaixo nesta história.

Reconheço – e aceito – que a grande maioria feminina não se interessa por futebol, ou até se interessa, mas pouco acompanha. Por uma questão biológica ou não, há uma forte tendência do homem a gostar do esporte, tanto de assistir como jogar. E eu não julgo, nem subestimo, essa porcentagem de mulheres que não gostam. Elas não têm a obrigação de acompanhar e muito menos de entender as regras do jogo. Mas, e a outra pequena porcentagem, onde fica?

A outra porcentagem é aquela estigmatizada pelas opiniões masculinas; aquela que sofreu generalizações, que nos tornaram alvo de piadas machistas e de comentários como “mulher não entende, só torce.” Não nego a existência de torcedoras com este perfil, mas, assim como há as mulheres, existem também os homens pseudo-fanáticos. São os chamados “torcedores de modinha”. Não fazem ideia do que aconteceu no decorrer do campeonato, não sabem quais adversários o seu time enfrentou, mas se está lá na final, vão ao estádio e comemoram o título com orgulho. É claro que, para o homem, isso não será um problema. Porque “homem entende de futebol.” A mulher é que vai sofrer o preconceito, por ser um “ser limitado quando o assunto é futebol.”

Em meu nome, e no de todas as leitoras que se identificaram nesta parcela injustiçada, eu digo: nós não vamos aos estádios para “enfeitar as arquibancadas”, como é de praxe ouvir dos narradores de jogos. E, menos ainda, para “olhar as pernas dos jogadores” (essa é para rir) ou então “tirar onda”. Nós também entendemos a regra do impedimento – e as demais –, também entendemos a organização e o esquema de cada campeonato, também sabemos a escalação completa do nosso time. Se vamos aos estádios, é porque gostamos de assistir aos jogos, apreciamos o bom futebol, e, sobretudo, porque dedicamos amor incondicional ao nosso time. A alegria de comemorar uma vitória não é efêmera, não cessa no momento do apito final. É uma alegria que faz parte do nosso trajeto como torcedoras, que altera o nosso humor cotidiano, e que nos envolve durante todo o período do campeonato. Obviamente, nem sempre é a alegria que reina no fim.

Resumindo o que eu queria dizer: não precisamos ser homens ou possuir qualquer indício de masculinidade para gostar de futebol. Somos nós mesmas, mulheres. A diferença é que usamos maquiagem, colocamos salto alto, e somos, digamos, mais sensíveis. Nada que nos impeça de amar e entender o futebol, até excedendo, em alguns casos, o interesse dos homens.

2 comentários:

  1. Ela entende e acompanha mais futebol do que eu...
    né amor?
    mandou bem Linda!

    Pedro

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  2. Vc é demais, Bruu! Simplesmente bato palmas de pé. Temos aqui uma futura colunista de sucesso. Ar-ra-sou

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