Morfemas formam palavras. Palavras criam sintagmas, que
criam frases, que criam orações, que criam períodos, que criam o texto.
O texto narra, descreve, argumenta, comunica. O texto
conversa, comove, insinua, demonstra, informa. O texto pode ser original, pode
ser plágio, pode ser intertextual.
O texto desafia o leitor. E o leitor desconfia.
O texto fala por si, mas também fala do outro. Pode
ter um ou mais gêneros. Pode ser inútil, pode ser excesso, vazio, inconcluso. O
texto pode não ter sua aparência tradicional. Pode ser desenho, imagem,
gráfico, corpo.
O texto é instrumento universal. É verdade e mentira.
É romance, conto, poesia.
É um bilhete na geladeira, é uma nota no jornal. É
irônico, complexo, intencional. Transmite e recebe, inventa e copia.
Faz lembrar. Associar. Chorar. Sorrir. Imaginar.
O texto é ritmo, som, exclamação. É trabalho e
inspiração.
Para o jornalista, o texto é notícia. Para o prolixo,
demorado. Para o linguista, objeto de estudo. Para o publicitário, é marketing.
Para o compositor, música. Para o romancista, é história. Para o cozinheiro,
receita. Para o cartunista, charge. Para o poeta, é dor. Para mim, necessidade.
O texto surge de um silêncio espontâneo. De uma
linguagem do pensamento que antecede sua realização formal. Das ideias mais
prosaicas e revolucionárias.
O texto grita dentro de mim, implora sua
manifestação.
E eu escrevo para libertar palavras intranquilas e
aprisionadas. Para modelar e reconstruir sentidos ainda primários. Concretizar
o mundo inteligível de Platão.
Porque não me basta ser leitora: sucumbo à criação.